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um carnaval à moda antiga

O carnaval está aí, goste você ou não. Mesmo não sendo um adepto da folia carnavalesca, é praticamente impossível ignorar completamente seus festejos. Neste domingo (02/03), resolvi sair para fotografar o tradicional bloco das Kengas, que comemorou seus 42 anos no carnaval de Natal.

Eu já tinha fotografado as Kengas no carnaval de 2018. Naquela época, eu mal tinha aprendido a usar a câmera, mas ainda assim foi uma experiência muito divertida e que rendeu boas fotografias. Na ocasião, eu usei basicamente uma Canon 80D e uma EF 85mm ƒ/1.8. Quem sabe em outra publicação eu não mostre essas fotos. Mas desta vez, já não sou mais um iniciante. Não faria sentido repetir o que fiz em 2018, portanto, resolvi fazer um desafio próprio: fotografar usando somente lentes mecânicas, fazendo o processo inteiramente de forma manual.

Para quem começou a fotografar com câmeras digitais, não é tão comum o uso de lentes mecânicas. Trata-se de lentes que não possuem comunicação eletrônica com a câmera, portanto, para fazer alterações dos parâmetros que envolvem a lente, você precisa usar o próprio corpo dela, como: o anel de diafragma para alterar a abertura do… diafragma; ou o anel de foco para fazer a movimentação do… foco. Não que isso seja algo de outro mundo, não é. Mesmo em épocas digitais, a maioria das lentes permite que você utilize o foco manualmente ao deslizar o anel correspondente, mas em um mundo tão automatizado, isso é geralmente utilizado em situações que exigem muita precisão. No meu caso, eu só utilizo o foco manual (usando uma lente eletrônica) quando estou fotografando ambientes sem pessoas, paisagens, ou quando quero focar em uma estrela no céu para fazer astrofotografia. Tirando esses casos, prefiro utilizar o foco automático.

Lentes mecânicas não possuem contatos eletrônicos para fazer comunicação com a câmera

Eu tive acesso a lentes mecânicas em uma negociação que fiz com meu amigo Claro Pires. Comprei dele um kit que veio com 4 lentes completamente manuais. E a partir daí, passei a inseri-las na minha fotografia, principalmente num contexto de lazer. Em algumas poucas situações, eu as utilizo em trabalhos, geralmente em vídeo.

A principal vantagem de usar uma lente mecânica nos dias atuais é que ela te faz pensar. Isso acontece por exigir mais técnica do fotógrafo e atenção quanto ao foco (já que ninguém quer ter fotos desfocadas). Uma outra vantagem é que mesmo as lentes mecânicas “modernas”, ou seja, de marcas atuais e que devem ter menos de 10 anos de fabricação, ainda carregam uma estética semelhante às lentes antigas. As fotografias não possuem aquela nitidez exagerada das lentes modernas; em grandes aberturas, apresentam presença forte de aberrações cromáticas e de reflexos de luz (o famoso flare) e, dependendo do modelo, até um contraste mais baixo. Isso pode incomodar aos mais exigentes, mas me agrada, já que não vou usá-las para um trabalho publicitário, por exemplo.

A principal desvantagem, para mim, é não carregar as informações de EXIF junto aos arquivos: aquelas informações técnicas que estão embutidas nas fotografias com os parâmetros utilizados para fazer aquela imagem. Com uma lente sem comunicação eletrônica, você fica sem as informações de qual lente foi utilizada, qual distância focal e qual a abertura do diafragma utilizada. Isso às vezes é útil para fazer alguma explicação ou até mesmo para filtrar e encontrar imagens dentro do catálogo.

Um outro ponto que vale o destaque, mas que não vejo como uma desvantagem, e sim como uma característica que exige mais técnica do fotógrafo, é o giro do anel de foco. Dependendo da distância focal da lente e de como ela foi projetada, esse giro de foco pode ser mais curto ou mais longo, e quanto mais curto, mais sensível ele é. Quanto mais longo, menos sensível e mais fácil de focar é, mas também o foco fica mais demorado e você pode perder a cena que está fotografando.

GIF do giro do anel de foco de uma lente mecânica

Imagine que você está em meio a um bloco carnavalesco, com o seu assunto se mexendo o tempo todo. Se você não tiver domínio do giro do anel de foco, vai perder muitas fotografias. O segredo, na minha opinião, não é fazer o giro mais rápido e mais preciso, mas sim identificar a distância de foco para aquela posição do anel da lente. Isso permite que você altere o foco dando pequenos passos para frente ou para trás, sem necessariamente fazer o giro do anel; assim, você otimiza o tempo e perde menos fotos. Eventualmente, você vai ter que fazer o giro, principalmente em situações em que o assunto está mais distante ou muito próximo. Independentemente da situação, é um desafio.

Voltando ao desafio, os equipamentos que utilizei para fotografar as Kengas foram:

  • Câmera Canon EOS M6 Mark II
  • Lente 7Artisans 7.5mm ƒ/2.8 Fisheye
  • Lente 7Artisans 35mm ƒ/1.2 II
  • Lente TTArtisan 17mm ƒ/1.4
  • Pochete Forclaz 10L
  • Alça PGYtech

Acabei utilizando somente a 17mm e a 35mm. Não vi nenhuma cena interessante para enquadrar com uma lente olho de peixe. A pochete é um item indispensável para mim em saídas como essa, pois além de caber minha câmera e lentes, ainda cabe minha garrafa térmica de água. A alça eu utilizo quando o ambiente permite. Em alguns lugares eu prefiro ficar tirando e colocando a câmera na pochete, em outros, se estiver tranquilo, apenas coloco a alça e deixo ela transversal ao meu corpo.

Foto do kit de equipamentos utilizados nessa saída fotográfica. Câmera, lentes, pochete e alça
Conjunto de equipamentos que levei comigo nessa saída para fotografar

Cheguei à concentração em frente ao Bardallo’s por volta das 14h52. Me encontrei com os amigos do Poty Fotoclube e lá presenciamos muitas pessoas felizes, com fantasias deslumbrantes, em um clima de muita diversão e com direito a muita música carnavalesca ao som da orquestra do Papão. O tempo ia passando e mais pessoas iam chegando, com novas fantasias; a estreita rua Gonçalves Lêdo começava a ficar apertada. Todos aguardavam a chegada do Lula Belmont, proprietário do Bardallo’s e um dos principais organizadores do bloco das Kengas.

Por volta das 17h, o Lula Belmont chega com uma fantasia que se destacava em meio às outras, principalmente pelas cores vibrantes em conjunto com a maquiagem. Após sua chegada, todos que estavam na concentração partem pela rua Gonçalves Lêdo até chegar na praça André de Albuquerque, onde estava o palco da prefeitura, palco esse que algum tempo depois recebeu o desfile das Kengas, em que disputavam a melhor fantasia do carnaval de 2025.

Fiquei pouco tempo nos arredores do palco, pois já estava escurecendo. Voltei pra casa por volta das 18h, sem ter visto o desfile completo. Estou escrevendo esse texto sem saber qual foi a fantasia vencedora. Será que eu a fotografei?












Lula Belmont






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Comentários

  1. ficou diferenciado meu amigo... parabens pelos registros... Na proxima me chama...
    BH

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  2. Parabéns, curto essa sua visão de fotografia.

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  3. Muito interessante a narração. Tecnicidade e história ao mesmo tempo.

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    1. Valeu, amigo! Dá pra dar uma misturada né? Pra mim é muito difícil não falar de técnica haha

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  4. Muito show amigo, tarde diferente fotografando as Kengas, lindas fotos.

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  5. Excelente texto e excelentes fotos. Parabéns

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  6. Cara, você mandou muito bem, principalmente no foco! Depois me conta la no grupo quais assistentes de foco manual você usa, abraços!

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    1. Fala, Diego! A M6 Mark II só dispõe do Focus Peaking, então usei ele. Mas ele nem sempre é preciso, e a depender da luz do local, você nem consegue enxergar no visor.

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