Um tipo de fotografia que sempre me encantou, e que me deixava intrigado para saber como era feita, era a astrofotografia. Os registros das estrelas, da Lua, dos planetas, e também da Via Láctea fazem até hoje meus olhos brilharem.
Meu amigo Herbert Ferreira, grande entusiasta da astrofotografia, sempre me mostrava suas belas fotos e, pacientemente, me dava diversas dicas de como registrar aquele momento, mesmo que, às vezes, não fosse possível ver o que estávamos fotografando. Apesar da curiosidade e empolgação, eu nunca havia tentado de fato. Um dos principais requisitos para esse tipo de fotografia é estar em um local totalmente escuro, com o mínimo de poluição luminosa possível. Essa condição, porém, é difícil de ser alcançada morando em uma capital, devido à intensa luz artificial.
Até que, em 2021, surgiu uma ótima oportunidade: um grupo de amigos me convidou para praticar astrofotografia no Parque Estadual Pedra da Boca, na cidade de Araruna, Paraíba. Embora geograficamente pertença a Araruna, o parque fica mais próximo da pequena cidade de Passa e Fica, no Rio Grande do Norte. O lugar é muito bonito, relativamente isolado e escuro o suficiente para a prática da astrofotografia. Empolgado com a oportunidade, aceitei o convite e comecei a estudar sobre o assunto e a planejar a captura da Via Láctea.
Passei a semana inteira devorando vídeos, artigos e aulas sobre o tema, aprendendo o que fazer, que cuidados tomar e como não voltar para casa "a ver estrelas" sem a foto tão desejada. Nessa pesquisa, descobri que estava no melhor mês para capturar a Via Láctea, já que em julho ela aparece cedo no céu, evitando que fiquemos até a madrugada esperando por ela. Também vi que, mesmo não tendo o melhor equipamento disponível, minha câmera e lente grande angular eram suficientes para o que eu pretendia.
O planejamento consistiu nas seguintes etapas:
- Mapear os possíveis locais para o grupo se posicionar e realizar as fotografias;
- Verificar a fase da lua no dia, pois seu brilho dificulta a captação das estrelas e da Via Láctea pela câmera;
- Consultar a previsão do tempo, já que chuva, vento, umidade e nuvens podem influenciar negativamente o resultado;
- Identificar a posição da Via Láctea, com o objetivo de fotografá-la em conjunto com algum elemento terrestre, criando um ponto de referência para o observador.
Os locais mais prováveis para fazer as fotografias eram o quintal da propriedade de um morador local, onde meus amigos já haviam estado, ou as proximidades da Pedra da Boca, perto da estrada de acesso. A segunda opção, porém, mostrou-se inviável, pois ficaríamos desprotegidos e a astrofotografia demanda bastante tempo. Optamos, então, por permanecer na propriedade do senhor conhecido pelos meus amigos. (Na imagem abaixo, é possível ter uma noção do local).
Naquele dia, teríamos lua nova, que ia se por logo ao anoitecer. O aplicativo Windy indicava a ausência de ventos fortes e poucas nuvens: condições perfeitas para a prática da astrofotografia. Restava saber a posição da Via Láctea, pois desejávamos enquadrá-la com a famosa Pedra da Boca. Utilizei o aplicativo PhotoPills, inserindo a localização, data e horário desejados para visualizar a posição da Via Láctea e como a enquadraríamos em nossas fotos.
Com o PhotoPills, consegui ver que a Via Láctea estaria projetada à esquerda de quem olha para a Pedra da Boca. Nesse caso, se quiséssemos encaixá-la na composição, teríamos que nos posicionar mais à direita. Mesmo assim, o grupo decidiu manter o mesmo local, devido à segurança. Uma vez que estivéssemos lá presencialmente, buscaríamos uma composição com os elementos do lugar.
Ainda no PhotoPills, vimos que a Via Láctea apareceria para nós por volta das 18h35. Sabendo disso, partimos de Natal por volta das 14h30, com um pouco de receio, pois um colega que estava em Passa e Fica informou que o dia havia amanhecido nublado e com chuva fraca. Chegamos ao destino por volta das 16h30 e fomos direto para a casa do senhor, onde encontramos o restante do grupo.
Já no local definitivo, fizemos o reconhecimento da área, procurando elementos interessantes e o melhor posicionamento. À nossa esquerda, havia uma pedra enorme, que já tínhamos visto no aplicativo, mas não havíamos considerado utilizá-la. Pessoalmente, porém, percebemos que ela proporcionaria uma ótima composição. Decidido, então: a foto principal seria com aquela pedra. Posicionei meu tripé, fiz um teste rápido com a câmera e, em seguida, fomos conversar e aproveitar o restante do pôr do sol, com uma "hora azul" espetacular, com direito a lua sorrindo para nós.
Após o anoitecer e a lua ter se posto, começamos a preparar as câmeras, agora na escuridão total. E aqui ressalto a importância de ter dedicado a semana anterior ao estudo, me preparando para essa situação. O curso de fotografia de paisagens ministrado pelo Marcello Cavalcanti foi fundamental. Com sua experiência, peguei dicas importantes para minimizar as dificuldades. Mesmo assim, a focalização (escolher o ponto de maior nitidez na imagem) se mostrou bastante desafiadora. A câmera requer áreas de contraste para definir a área de foco, e no escuro total, essa tarefa tornou-se complexa.
Apesar de utilizarmos lanternas, o uso delas era restrito a momentos específicos, pois qualquer luz incidente durante a fotografia comprometeria o resultado, danificando a imagem. Acender uma lanterna enquanto os colegas fotografavam, por exemplo, certamente causaria transtornos. A astrofotografia, como pudemos constatar, requer estudo, prática e, principalmente, paciência.
Seguindo as técnicas aprendidas, consegui definir o foco, configurar a câmera e a lente e iniciar a captura. Após alguns segundos de exposição, a primeira foto, utilizando uma técnica inédita para mim, surgiu na tela. O resultado era bom, mas ainda havia margem para aprimoramento. Após algumas tentativas, finalmente capturei a imagem desejada. Na pequena tela da câmera, a foto já se mostrava promissora. Imaginei o potencial após a edição! A sensação de satisfação era grande; a viagem já havia valido a pena. Permanecemos no local até aproximadamente as 20h30, realizando outras fotos e composições, que devo compartilhar aqui em um outro momento.
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Canon EOS M5 | Viltrox EF-EOS M2 Speed Booster 0,71x | Canon EF 16-35mm ƒ/2.8L III USM | 20s - ƒ/2 - ISO 2000 |
Muitas pessoas acreditam que a fotografia se resume a possuir câmeras e lentes caras, como se a "mágica" acontecesse por si só. Entretanto, a fotografia é uma arte que exige técnica, estudo e, na maioria dos casos, planejamento. Se eu tivesse a melhor câmera do mundo e a lente mais cara, mas não tivesse dedicado uma semana ao estudo do assunto, certamente não saberia como utilizá-las. A câmera não adivinha a foto desejada. Da mesma forma, mesmo com o conhecimento técnico, se eu não tivesse pesquisado e planejado todos os aspectos daquela expedição fotográfica, minhas expectativas poderiam ter sido frustradas ao chegar ao local.
Estude, planeje, mas lembre-se de que, sem a execução, o tempo investido será em vão.
Ótimo texto e belas fotografias. Parabéns!!
ResponderExcluirobrigado, meu amigo! você foi fundamental nesse meu aprendizado
ExcluirMassa demais construir uma foto assim
ResponderExcluirfoi demais! ainda mais que eu só conseguia ver a dos outros mas nunca tive, até então, a oportunidade de fazer algo assim. depois rolaram outras oportunidades que quero contar aqui no blog
ExcluirFoi show esse dia, onde também conseguir capturar minha melhor Astro Fotografia, nesse momento impar.
ResponderExcluirprecisamos de outra aventura dessa o quanto antes
ExcluirVim do grupo do Júnior só ler e ver ! Parabéns
ResponderExcluirobrigado pela visita! 😊
Excluirmeu artista favorito!
ResponderExcluir<3
ExcluirExcelente resultado e ótima experiência essa! Quando vier em Minas, venha registrar o céu daqui!
ResponderExcluirLegal ler teu comentário aqui, Ariane! O interior de minas está nos meus planos. Ouro Preto e Tiradentes. Daí eu já conheço Monte Verde.
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